O atual equilíbrio de riscos pode justificar um ajuste na política monetária da Reserva Federal, afirmou nesta sexta-feira Jerome Powell, presidente do banco central dos Estados Unidos, em um sinal interpretado pelos investidores como uma maior possibilidade de corte nas taxas de juros em setembro.

“No curto prazo, os riscos para a inflação estão inclinados para cima e os riscos para o emprego, para baixo — uma situação desafiadora”, declarou Powell em seu discurso no Jackson Hole Symposium, que reúne anualmente banqueiros centrais no estado do Wyoming. “Quando nossos objetivos estão em tensão como essa, nossa estrutura exige que equilibremos os dois lados do nosso duplo mandato”.

Ele destacou que a taxa de política monetária está agora 100 pontos base mais próxima da neutralidade do que há um ano, e que “a estabilidade da taxa de desemprego e de outras medidas do mercado de trabalho nos permite proceder com cautela ao considerarmos mudanças em nossa postura política”.

Powell também mencionou que “entretanto, com a política em território restritivo, a perspectiva básica e o equilíbrio variável dos riscos podem justificar um ajuste em nossa postura política“.

A Fed ainda não alterou os juros este ano, mantendo em julho as Federal Funds Rates na faixa de 4,25%-4,50% pela quinta reunião consecutiva, ignorando os constantes apelos de Donald Trump por uma redução no custo do dólar. A próxima reunião do Federal Open Market Committee, o comitê que decide a política monetária, ocorrerá em 17 de setembro.

O discurso de Powell nesta sexta-feira levou os investidores a aumentarem suas apostas em um corte em setembro. De acordo com o site CME FedWatch Tool, que monitora a negociação de futuros das taxas de juros, a probabilidade de uma redução de 25 pontos base na próxima reunião subiu para 89,3%, quando minutos antes do discurso era de 73,5%.

“A Reserva Federal não será a desmancha-prazeres“, afirmou Brian Jacobsen, economista-chefe da Annex Wealth Management, conforme citado pela Reuters. “O presidente Powell demonstrou que tem uma mente aberta para interpretar os sinais”.

“Os riscos de queda no mercado de trabalho aumentaram e, embora ainda estejam preocupados com as expectativas de inflação, não priorizarão o risco desconhecido das expectativas de inflação em detrimento dos riscos conhecidos para o crescimento“, destacou Jacobsen.

Os índices acionários em Wall Street ampliaram os ganhos logo após a abertura, com os investidores satisfeitos com os sinais do chair da Fed. O Dow Jones Industrial Average subiu 1,90%, o S&P 500 avançou 1,55% e o Nasdaq Composite ganhou 1,88%.

Com maior probabilidade de um corte nas taxas de juros, as yields de ativos de dívida soberana americana também diminuíram no mercado secundário. A taxa dos títulos de dois anos caiu 9,4 pontos base para 3,698%, enquanto a yield do benchmark a 10 anos recuou 6,9 pontos para 4,262%.

No mercado cambial, o índice do dólar, que mede a moeda em relação a uma cesta de moedas, incluindo o iene e o euro, encerrou em queda de 0,43% no dia, a 98,18, após ter sido negociado em torno de 98,7 antes dos comentários de Powell, refletindo uma menor atratividade da moeda norte-americana.

(Notícia atualizada às 15h55)

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