Protestos contra medidas orçamentais do Governo: mais de 300 identificados e 22 feridos.
As autoridades francesas identificaram 309 pessoas entre os participantes do protesto que parou a França contra as medidas orçamentais apresentadas pelo Governo de François, que caiu no dia 8 de setembro após o chumbo de uma moção de confiança. Destas três centenas de manifestantes, 134 foram detidas e levadas pela polícia.
Até às 18h00 de quinta-feira, as autoridades contabilizaram mais de 506 mil pessoas, sendo 55 mil em Paris. Também foram registadas 181 detenções, sendo 31 na capital francesa, e 22 feridos, sendo 11 membros das forças de segurança e um jornalista. De acordo com o Ministério de Interior da França, foram registadas 700 ocorrências na via pública e 29 incêndios, publica o Le Monde.
Os sindicatos, citados pela BFMTV, apontam para um milhão de participantes nas manifestações em todo o país.
Os protestos foram convocados por todos os sindicatos (CGT, CFDT, CFE-CGC, CFTC, Sud, FO, Unsa e FSU) e, de acordo com o Le Monde, estavam previstas mais de 250 ações de bloqueio nas grandes cidades, como Paris, Lyon, Marselha, Toulouse, Nice, Rennes ou Lille. O Ministério da Administração Interna de França espera uma adesão de 600 mil a 900 mil pessoas. Apesar das estimativas das autoridades apontarem para a presença de 200 mil manifestantes, a líder da CGT garantiu, horas depois, que estavam reunidas mais de 500 mil pessoas por todo o país.
Por volta das 17h00, a CGT anunciou que “mais de um milhão de pessoas” em todo o país participaram nas manifestações convocadas pelos oito sindicatos franceses, tratando-se de um número superior ao da última grande mobilização contra a reforma das pensões em França, em junho de 2023, que reuniu 900 mil pessoas, segundo o mesmo sindicato.
A semelhança dos protestos do dia 10 de setembro — que mobilizaram 200 mil manifestantes em todo o país —, as reivindicações de quinta-feira são contra as medidas consideradas injustas e excessivas sobre a reforma do subsídio de desemprego, o congelamento das prestações sociais e o aumento para o dobro das taxas sobre medicamentos.
A CGT publicou, no site oficial, um mapa interativo com os percursos das manifestações em cada cidade. Em Paris, o protesto sai da Praça da Bastilha às 14h00, passa pela República e termina na Praça da Nação. O objetivo da organização era que as manifestações terminassem na Praça Concorde, mas a Câmara Municipal alterou o trajeto pretendido.
O setor dos transportes públicos é um dos mais afetados com estas manifestações. Segundo o Le Figaro, a SNCF (Companhia Nacional Ferroviária Francesa) prevê apenas um em cada três comboios regionais TER e metade dos Intercités em circulação, com atrasos também nos TGV InOui, Lyria e Ouigo, embora garanta que “todos os passageiros deverão conseguir viajar ao longo do dia”, propondo trocas ou cancelamentos gratuitos. Na região de Île-de-France, a adesão aos protestos é quase total: 90% dos maquinistas de metro e 80% dos do RER estão em greve — apenas as linhas automáticas 1, 4 e 14 funcionam normalmente.
Os autocarros e os elétricos registam, também, fortes perturbações. Já no setor aeroportuário a situação mantém-se estável após a suspensão da greve dos controladores aéreos.
A paralisação estende-se ainda à educação e aos serviços de saúde. Segundo o Sindicato Nacional dos Professores, FSU-SNUipp, um terço dos docentes do ensino básico está em greve, em protesto contra a falta de recursos. O Ministério da Educação avança que 17,06% dos profissionais aderiram aos protestos. Também os hospitais apresentam pré-avisos de greve em vários serviços e os farmacêuticos preveem o encerramento de 98% das farmácias.
O Ministério da Administração Interna mobilizou um dispositivo de segurança que conta com 80 mil polícias e 24 carros blindados. O ministro cessante, Bruno Retailleau, deu instruções para impedir “qualquer degradação”, assim como travar “todas as tentativas de obstrução de infraestruturas essenciais”.
No final da manhã desta quinta-feira, após uma assembleia-geral de maquinistas ferroviários na Gare de Lyon, em Paris, cerca de cem pessoas, lideradas por Fabien Villedieu, secretário-geral do SUD-Rail, conseguiram entrar no recinto do Ministério da Economia, que fica entre a estação e a Praça da Bastilha, onde a manifestação terá início, para protestarem contra o Governo.
Em Nantes, cerca de 16 mil pessoas protestaram no centro da cidade sob apertada vigilância policial. As autoridades foram obrigadas a intervir duas vezes junto à Câmara Municipal, provocando confrontos e a utilização de gás lacrimogéneo.
Em Marselha, a manifestação que reuniu cerca de 15 mil pessoas, segundo a polícia (e 120 mil de acordo com a CGT), terminou junto da entrada da estação Saint-Charles, fortemente vigiada por um cordão policial para evitar qualquer tentativa de desacatos.
Já em Lyon, registaram-se momentos mais violentos quando um grupo encapuzado lançou tiros de morteiro contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo. Há registo de três feridos, incluindo um jornalista da France TV e um polícia. Apesar dos incidentes, alguns participantes classificaram a manifestação, que conta já com 20 mil pessoas, como “a mais calma” em que já estiveram presentes.