Se vencemos 5-0 é porque o adversário é fraco, se não é porque não atuamos bem

Roberto Martínez defende-se das críticas e afirma que é necessário “desfrutar mais” da seleção nacional, analisando de forma mais objetiva os desempenhos da equipa.
“Dizer que vencer por 5-0 se deve à fragilidade do adversário e que não ganhar com essa margem é porque não jogamos bem… Esse tipo de discurso não é correto”, declarou o selecionador nacional em conferência de imprensa nesta segunda-feira.
Para Martínez, que “gostaria de ver críticas mais fundamentadas”, os jogadores “merecem mais respeito pelo que estão a fazer”: “Temos uma seleção que pratica um bom futebol. Os atletas têm um compromisso excepcional. Vamos aproveitar isso.”
As declarações foram feitas em antecipação ao jogo entre Portugal e Hungria, agendado para terça-feira às 19h45 em Alvalade. Uma vitória assegurará a classificação para o Mundial de 2026.
Nervos num jogo que pode garantir o apuramento: “O fator emocional é relevante em todos os jogos, mas creio que o grupo está tranquilo e focado, a trabalhar de maneira eficaz e ciente da força que temos quando jogamos em casa. O encontro contra a Irlanda gerou uma energia no ambiente que motiva os jogadores a querer voltar. É uma oportunidade de ganhar e garantir a vaga no Mundial diante dos nossos adeptos, que são importantes para o aspecto emocional.”
O que melhorar em relação ao jogo com a Irlanda: “É necessário avaliar o desempenho de forma global. O nosso comportamento defensivo foi exemplar. A Irlanda faz uso de lançamentos longos e contra-ataques, e o que fizemos sem a bola impediu que a Irlanda finalizasse. O que faltou foi um golo precoce. A bola pode bater no poste e entrar ou sair. A equipa atacou, e claro que queremos continuar a melhorar sempre. Não devemos perder o nosso desempenho defensivo, que é mais importante que qualquer melhoria. Mostrámos resiliência e o golo da vitória foi merecido. Chegou no minuto 91, ainda tivemos mais seis minutos para continuar atacando. Podemos aperfeiçoar a fluidez e a ocupação de espaços com a bola. A Hungria é uma equipe bem organizada e bem preparada para o contra-ataque, por isso queremos continuar a fazer o que foi bem feito defensivamente e trabalhar nos pontos a melhorar.”
Mais um golo “originado” na Arábia Saudita: “Um golo é uma consequência de um bom jogo. Não diria que é fruto de um talento individual, mas revela que onde os nossos jogadores atuam não influencia a ajuda que dão à seleção. O que realmente importa é a atitude, o compromisso e a execução das funções que todos devem cumprir para beneficiar a equipa. É positivo termos vários marcadores, para criarmos muitas oportunidades. Não há relação entre onde joga o atleta e a marcação de golos.”
Dificuldades de Portugal para marcar: “A nossa média de golos é uma das mais altas a nível mundial. Marcamos quase três golos por jogo. É essencial valorizar o que fazemos com a bola de forma detalhada: número de chegadas ao último terço, ‘gols esperados’, aspetos claros que demonstram que somos uma equipa ofensiva que atinge constantemente o último terço. A Hungria, por exemplo, jogou em casa contra a Alemanha e os Países Baixos e, em 180 minutos, não concedeu golos de jogadas corridas. Nós conseguimos marcar dois, um deles de grande penalidade. Ao avaliarmos jogos, é fundamental fazê-lo de forma objetiva. Não é equivalente marcar de bola parada a marcar de jogada corrida. A equipa chega ao último terço e cria oportunidades comparáveis às melhores seleções do mundo. Já provámos que podemos competir de igual para igual contra qualquer equipa. Quando enfrentamos um bloqueio defensivo, tudo se resume à capacidade de marcar o primeiro golo, o que transforma o jogo. Vencemos a Arménia por 5-0, mas era um adversário fraco. Por que razão devemos valorizar um 5-0 quando é a Arménia? A Arménia venceu a Irlanda. E depois, quando ganhamos à Irlanda nos descontos, somos criticados por não conseguirmos marcar? Precisamos de desfrutar. Temos uma seleção que joga futebol de qualidade. Os jogadores têm um compromisso incrível. Vamos valorizar isso. Dizer que vencer por 5-0 se deve à fraqueza do adversário e que não vencer com essa margem é porque não jogamos bem… Esse discurso não é correto.”
Roberto Martínez é um homem de sorte? “A minha responsabilidade é trabalhar e criar um ambiente competitivo. Queremos ser uma equipe ofensiva e ganhar todos os jogos, independentemente do local. É assim que conquistamos sorte. Pode-se considerar que a sorte existe, mas o que realmente sustenta a seleção é o trabalho e o empenho dos jogadores. Devemos falar mais sobre o que os jogadores fazem de bem do que sobre o que o selecionador faz por sorte.”
Críticas às exibições: “Gostaria que as críticas fossem mais bem fundamentadas. No entanto, o foco agora é desfrutar mais da seleção e não destacar o que não fazemos bem. Não somos perfeitos, mas os jogadores merecem mais respeito pelo que realizam. Todos têm uma opinião e a seleção pertence a todos, isso faz parte do jogo. Não vejo problema nisso.”
Selecionador de Espanha diz que Pedri é o melhor médio do mundo: “O mister Luis de la Fuente diz que os seus jogadores são os melhores, o que está correto. Para mim, Vitinha é o melhor médio do mundo. João Neves, que tem um perfil diferente, está entre os melhores do mundo. Porém, entre nossas opiniões, deve haver um aspecto objetivo. De acordo com as estatísticas, Vitinha foi o melhor médio da Liga dos Campeões. Pela temporada que fez, ele se destacou na maior competição de clubes. Devemos respeitar as opiniões, mas também reconhecer o que é objetivo, e Vitinha foi o melhor médio da Champions na última temporada.”
Cuidados com Dominik Szoboszlai: “É um jogador cuja capacidade técnica em bolas paradas é evidente, mas que também contribui muito para a Hungria durante o jogo. Ele possui liberdade e consegue criar espaço. Na seleção, ele tem mais liberdade do que no Liverpool. Trabalhamos nisso. As bolas paradas da Hungria são um aspecto crucial.”
Falta falar na renovação de contrato? “O foco do selecionador é no presente, passo a passo, buscando obter um bom desempenho e garantir a qualificação o mais rápido possível. O restante não é algo que me compete discutir.”
Possíveis alterações na equipe titular: “O importante é que a equipa tenha energia e clareza tática durante os 90 minutos completos. Não se trata apenas do onze inicial, mas do onze que finaliza o jogo. É essencial que todos os jogadores estejam prontos para um encontro exigente. A Hungria consegue abrir o campo rapidamente. João Félix irá treinar esta tarde; temos todos os jogadores disponíveis. Precisamos apenas dispensar Rafael Leão e Gonçalo Inácio, mas como costumamos fazer alterações de jogo para jogo, isso faz parte do nosso trabalho habitual.”
Rúben Dias jogou com Rúben Neves, um médio, ao lado em Budapeste: “Precisamos trabalhar a polivalência dos jogadores. Gostamos que eles não ocupem posições fixas. Rúben Neves já atuou como central. O que importa não é a posição, mas o perfil dentro dessa posição. No jogo em Budapeste, onde estivemos 70 minutos no campo do adversário, faz mais sentido ter um médio atuando como central do que um central jogando como médio. Temos Matheus Nunes e João Neves, que podem desempenhar funções de médio e lateral-direito. A função é sempre manter uma linha defensiva organizada, defendendo bem e com uma boa reação à perda de bola. Não é a posição que define o jogador, mas sim o seu comportamento na posição.”